Os Pataxó, um povo que se nega a desaparecer

Depoimento recolhido por Joana Moncau Foto Antônio Cruz/Agência Brasil

No extremo Sul da Bahia (Brasil) encontra-se o provável lugar de onde primeiro se avistaram as caravelas que traziam os portugueses, lá que os europeus foram descobertos por alguns povos indígenas. De acordo com a história oficial, foi o Monte Pascoal que levou as hipotéticas palavras de «terra à vista» à boca de Pedro Alvares Cabral, o português que comandava a expedição que deu início à colonização daquelas terras, em 1500. Centenas de anos mais tarde esse mesmo lugar viria a se tornar um dos principais focos de conflito de disputa pela terra entre os Pataxó.

Arissana Braz Bonfim de Souza, Pataxó de 26 anos, conta aqui parte da luta de seu povo por esse território. Não aquela que aprendeu na escola, nem nos livros. Mas a que lhe transmitiu seu avó e que segue marcada no povo mais velho de sua comunidade. Seu depoimento não traz impressa a precisão dos historiadores, mas os elementos da memória coletiva de um povo que luta por seu reconhecimento.

Graduada em Artes Plásticas e mestranda em Estudos Étnicos na Universidade Federal da Bahia (UFBA), atualmente vive na cidade de salvador. Estuda por «puro gosto», como faz questão de ressaltar. Entretanto, deixa claro que também vê no estudo um instrumento na luta de seu povo e declara: «Quero voltar a viver na aldeia, mas quero contribuir de onde for melhor para minha comunidade. Se for preciso que eu permaneça na cidade, lá ficarei».

Fiquem com sua narrativa, a história dos Pataxó pelos Pataxó:

Antigamente vivíamos em grupos pequenos circulando entre um território que variava do Espirito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. Acabamos confinados pelo governo em um pequeno território, na aldeia de Barra Velha, que incide no atual Parque Nacional de Monte Pascoal. Os antropólogos e historiadores dizem que esse aldeamento jesuítico foi em 1860. A Aldeia Mãe, como ficou conhecida entre nós, era onde moravam todos os Pataxó. Segundo os historiadores fomos aldeados para ficarmos fixos e não atrapalhar o processo de instalação das plantações e da pecuária.

Desde então, a gente sempre esteve naquele território. Em 1943 o governo percebeu que tinha uma grande área verde no extremo sul da Bahia e quando investigou viu que tinham índios morando nessa área, os Pataxó. Nesse ano resolveram transformar o território Pataxó em território florestal. A ideia era demarcar para que não destruíssem a mata. Mas se a única área verde da região foi preservada justamente por que os Pataxós estavam lá?

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2 Respuestas a “Os Pataxó, um povo que se nega a desaparecer”

  1. Amiga Arissana, sou professor de História e Geografia aqui em Vitória, no Espírito Santo, palestrante e também ativista defensor das causas indígenas. Infelizmente os autores dos livros de história são descendentes de europeus, os quais promoveram extermínios dos verdadeiros donos da «terra» – os índios brasileiros e outros povos pré-colombianos que já habitavam as Américas – para para ocupar sus terras e roubar suas riquezas (inclusive estou escrevendo um livro sobre isso).São raros os escritores que têm coragem de relatar as atrocidades promovidas promovidas pelo invasores em nome de «Sua Majestade», quantos dos nossos irmãos indígenas foram abatidos em tocaias, uma verdadeira covardia – brancos usando armas de fogo, e índios arco e flecha para defender suas terras. Hoje a natureza responde com rios que estão morrendo porque seus mananciais estão secando por conta dos desmatamentos e plantio de eucalipto.Quando chove acontecem as enchentes, destruindo plantações e inundando cidades porque os poucos rios que ainda restam alem de poluídos estão assoreados. Arissana, este é um pequeno desabafo deste seu amigo Capixaba, defensor da natureza e das causas indígenas. Parabenizo você, pois assim com a nossa irmão lá da Amazonia, Sheyla Juruna, você também é uma guerreira, combatente das causas indígens e ambientalistas.Estou a sua disposição para informações, palestras nas escolas etc… Abraços. Bom trabalho

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