Abdias do Nascimento: um século de luta negra

Por Joana Moncau e Spensy Pimentel* * colaboraram Rafael Gomes e Gabriela Moncau

A luta pelo reconhecimento dos direitos, a dignidade e a autonomia da população negra tem heróis de muitos países, entre África e Américas. É uma luta tão antiga quanto a diáspora negra produzida pelo vergonhoso comércio de africanos que vigorou no Atlântico por quase quatro séculos. É por se tratar de uma luta de tantos povos, lugares, tempos e pessoas que impressiona tanto conhecer a vida do ativista brasileiro Abdias do Nascimento.

Ao longo de seus 96 anos, Abdias esteve presente em e participou de inúmeras passagens importantes das lutas negras do século XX, não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos e na África. Nasceu em 1914, numa época em que ainda eram extremamente recentes as lembranças da escravidão no país, abolida em 1888. Nos anos 30, engajou-se numa iniciativa pioneira, a Frente Negra Brasileira, na luta contra a segregação racial nos estabelecimentos comerciais de São Paulo. Pela militância política, foi preso pela ditadura Vargas.

Nos anos 40, viajou pela América Latina como artista – é escritor, ator e artista plástico –, com a Santa Hermandad Orquídea, e fundou o Teatro Experimental do Negro, entidade que organizou a Convenção Nacional do Negro em 1945-6. A iniciativa foi responsável pela formulação de diversas sugestões de políticas públicas para a população negra, durante a Constituinte de 1946. Abdias ainda organizou o 1o Congresso do Negro Brasileiro, em 1950.

Militante do Partido Trabalhista Brasileiro, foi perseguido pela ditadura militar, instalada pelo golpe de 1964. Exilado nos Estados Unidos, travou contato com o movimento negro no país no auge da efervescência do Black Power. Nos anos 70, participou do movimento pan-africanista e foi professor universitário na Nigéria. Nesse período atuou em países como Jamaica, Tanzânia, Africa, Colômbia e Panamá, mantendo contato com lideranças como Aimé Césaire, Frantz Fanon, Léon Damas, Richard Wright, Cheikh Anta Diop, Léopold Sédar Senghor e Alioune Diop.

Ajudou a organizar o Movimento Negro Unificado (MNU), fundado em 1978, e, na redemocratização dos anos 80, voltou ao país, foi eleito deputado federal e, depois, chegou a senador pelo PDT, sempre defendendo projetos em benefício da população negra. Junto com a esposa, Elisa Larkin Nascimento, fundou o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), o qual é presidido atualmente por ela.

Na entrevista a seguir, respondida por e-mail, por sua esposa, Elisa, e subscrita por ele, Abdias dá um recado à nova geração de jovens negros militantes: “Precisamos nos qualificar, dominar criticamente o discurso hegemônico, mas criar também nosso próprio discurso afirmativo, construtivo, para além da lamentação”. “O conselho que dou para essa juventude é estudar, aprender, conhecer e se preparar para então se engajar: agir, criar, interagir e participar da construção das coisas.”

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