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Estudantes de Teresina saem às ruas e conseguem frear o aumento das tarifas de ônibus

Bolívia de Sá, do Centro Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo-UFPI Fotos: Lina Magalhães

Este é um relato sincero de tudo que vivi, vi e senti nos cinco dias de manifestações intensas. De como 200 estudantes se transformaram em 20 mil em um protesto que foi inédito tanto pra mim quanto para todos os estudantes de Teresina que participaram.

Teresina, Piauí. No dia 26 de agosto, o Prefeito de Teresina, Piauí, Elmano Ferrer, decretou o aumento da tarifa do ônibus do transporte coletivo de R$ 1,90 para R$ 2,10. O aumento era acima da inflação e baseado numa planilha de custos desatualizada do Sindicato dos Empresários de Transporte Urbano de Teresina (SETUT).

Um final de semana foi tempo suficiente para que, nas redes sociais, se organizasse o primeiro dia do que viria ser uma semana histórica de luta dos estudantes na capital piauiense. Depois de intensos dias de protestos estudantis conseguimos que o prefeito prorrogasse a auditoria que definirá sobre o aumento das tarifas do transporte público.

Três dias após o decreto, foi marcado um ato contra o aumento da passagem na principal avenida da cidade, Frei Serafim, com destino à Prefeitura de Teresina. Já na sede do governo municipal, cerca de 200 estudantes se autointitulando “os sem bandeira” seguiram em direção à sede do SETUT. Paralisaram o atendimento no SETUT, pararam 2 ônibus, pularam a catraca e foram para o palco da semana de luta: a Av. Frei Serafim. O trânsito da avenida foi paralisado, os estudantes dos pontos de ônibus adensaram a manifestação.

Nesse momento, a polícia militar e o RONE, a policia de elite do Estado, estavam a postos para proteger o patrimônio dos empresários. Mesmo após o spray de pimenta, a bomba de gás lacrimogêneo e as balas de borrachas, os estudantes resistiram paralisando o trânsito da cidade. Era desproporcional, os policiais da Tropa de Choque armados de cacetes e protegidos com escudos contra estudantes que, já em tom de deboche, iam de uma via a outra da avenida entoados pela zabumba de um dos manifestantes.

Como o spray de pimenta não dispersava a manifestação, resolveram prender 6 estudantes, sendo 2 menores de 18 anos. Nada adiantou, depois de mais de 7 horas de protesto no calor intenso de Teresina, todos se dirigiram para onde os estudantes foram detidos para exigir que fossem libertos. No final, foram soltos e com essa vitória terminou o primeiro dia.

No dia seguinte a convocatória teve ainda mais força dada a indignação diante da forte repressão policial vivenciada. Apesar de a mídia caracterizar o movimento como “baderna” e “vandalismo”, a população estava a favor dos estudantes e foram diversas as manifestações de apoio por parte dos trabalhadores da cidade, usuários ou não do transporte coletivo.

A cidade tinha acordado de um marasmo de anos. Os estudantes, secundarista em sua maioria, eram conduzidos por um carro de som pela avenida Frei Serafim. No fim da tarde as entidades se recolheram e, com elas, o carro de som que vinha tentando esfriar os ânimos e colocar hora para a manifestação terminar. Foram montadas barricadas e bloquearam um dos cruzamentos mais importantes da cidade. Novamente a policia reprimiu a manifestação com spray de pimenta e violência contra os estudantes que mais uma vez resistiram. Há todo momento havia um forte sentimento de solidariedade entre os manifestantes, água, comida, tudo era compartilhado e quando a polícia abordava questionando quem era o líder, todos respondiam “eu”.

Sob o sol escaldante, a quarta-feira do centro de Teresina foi igual ao dia anterior, porém, com o movimento mais encorpado através de intensa troca de informações pelas redes sociais. Novamente, depois que as entidades se retiraram da cena das manifestações os estudantes tomaram o palco. A mesma avenida Frei Serafim ficou marcada com pneus queimados, papeis espalhados e muitos estudantes que cainhavam por toda sua extensão. Nesse mesmo dia, o SETUT suspendeu a circulação dos ônibus na cidade e lançou nota nos meios de comunicação culpando a falta de financiamento da Prefeitura pelo aumento da passagem. O Prefeito, por sua vez, declarou que podiam quebrar a cidade que ele mesmo não iria fazer nada.

A quinta-feira foi o dia mais intenso da manifestação, 20 mil estudantes estavam na frente da prefeitura aguardando mais uma negociação com as autoridades. O resultado foi o esperado, o aumento permaneceria. Milhares de estudantes saíram pelas ruas do centro cidade, dezenas de ônibus foram quebrados e 1 ônibus foi queimado. E a promessa da palavra de ordem “se a passagem não baixar, Teresina vai parar”, foi cumprida. O microfone do carro de som foi cortado com o intuito de amenizar os manifestantes, mas mesmo assim era impossível controlar 20 mil estudantes que protestavam, não apenas quanto ao aumento abusivo da tarifa de ônibus e seu direito de ir e vir ameaçado, mas também contra uma realidade sem educação de qualidade, sem lazer, sem perspectiva. Dessa vez não deixaram barato!

Na sexta-feira, todos se concentraram em frente da Câmara dos Vereadores com a expectativa de mais um dia de resistência aguentando fome, sede, o causticante sol e a repressão policial. O governo já havia noticiado o reforço policial para conter os manifestantes. Os que circulavam pelas ruas próximas à avenida Frei Serafim percebiam a presença de viatura de tocaia e da cavalaria para intimidar aos estudantes. Até que a notícia da revogação do aumento por 30 dias para realização da auditoria chegou. A concentração final foi na Praça da Liberdade, as falas cantavam vitória: “o povo se uniu e a passagem caiu”. Os estudantes naturalmente se dispersavam com a sensação de dever cumprido.

Escutei de um grupo de secundarista que conversavam que a luta apenas tinha começado, que agora era a luta pelo Passe-livre. Atualmente, essa luta se dá através de coletas de assinaturas para viabilização do projeto de lei sobre o Passe-livre e fóruns de debate. Pelo Facebook foi convocado o evento “Alerta dos Indignados” paro o dia 30 de setembro, data que seria o fim da revogação pra auditoria das planilhas de custos. Entretanto, a auditoria foi prorrogada novamente e todos esperam que esse prazo termine, pois, se necessário, os protestos voltarão.

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