La ejecución de la concejal Marielle Franco y de su chofer, Anderson Gomes, en pleno centro de la ciudad de Río de Janeiro, el pasado día 14, se ha convertido en un marco de la nueva fase del periodo de crisis política que Brasil vive, de forma más aguda, desde 2016.

Cuando iniciamos la columna en Desinformémonos, en octubre de 2015, ya vivíamos la inminencia de un golpe “suave” en el país, y el primer texto, «Tiempo de autonomías en Brasil», disertaba sobre la gravedad del momento. En aquel entonces hablaba sobre una amenaza para muchos todavía alejada, pero que, ahora, con esa muerte tan simbólica, se ve plenamente instalada a los ojos de millones de personas en el país.

Sin garantías democráticas mínimas, los derechos individuales y colectivos más básicos están amenazados. No más los derechos de las “minorías”. El hashtag #SomostodosMarielle gana sentido absolutamente literal: cuando una concejal de la segunda ciudad más grande del país no está a salvo, ¿qué es lo que nos queda del desgastado barniz de esa falsificación grosera que ya fue llamada años atrás de una de las mayores democracias del mundo?

En la época, el mote para el artículo era el asesinato de Simeão Vilhalva, indígena kaiowa muerto durante la recuperación del tekoha de Nhanderu Marangatu, en la región del extremo oeste de Brasil, frontera con Paraguay. Un área distante, poco poblada, poco conocida de la gran mayoría de los brasileños. Ahora, con el avance del deterioro del poco de democracia que teníamos, la muerte se da de forma descarada, en plena zona céntrica de la ciudad brasileña más conocida en todo el mundo.

Si antes era un guaraní-kaiowa – representante del segundo mayor pueblo indígena del país, pero cuyas mazelas eran muy pocas conocidas por la mayor parte de los brasileños hasta hace pocos años –, ahora la víctima, muerta con cuatro tiros en la cabeza, viene del segmento de la población que en el nivel más bajo de la pirámide social brasileña, literalmente sostiene nuestro país, las mujeres negras.

En el año 2015, es bueno recordar que las empleadas domésticas – 6,2 millones de personas, siendo 5,7 millones de mujeres, de las cuales 3,7 millones son negras o pardas – finalmente conquistaron igualdad en las condiciones de trabajo (antes ellas sólo tenían acceso a 9 de los 34 derechos laborales garantizados en la Constitución de 1988). A cada cuatro mujeres negras en el mercado de trabajo, una es empleada doméstica (entre las no negras la proporción es de 1/7). Brasil es conocido como el país con el mayor número de empleadas domésticas del mundo.

El dato es emblemático para que se comprenda cómo la ruptura política de 2016 puede ser pensada como una insurgencia de parte de la elite brasileña en un momento en que la democracia en el país avanzaba a punto de arrancar algunos logros incluso para los grupos más marginados a lo largo de nuestra historia. En el año 2014, era común hablar de economistas y políticos liberales que participaban en encuentros con empresarios presentando, bajo aplausos, la tesis de que el principal obstáculo para que el país volviera a crecer, era que los costos con los salarios de los trabajadores estaban demasiado altos.

No es por casualidad que ya hay analistas trazando paralelos entre 1968 y 2018, el año en que el mundo vio revoluciones mientras que en Brasil fue el período en que la dictadura militar se lanzó a una radicalización, por medio del llamado Acto Institucional número 5, abriendo un período de  tortura y prisión política de miles de personas.

«Derribar a los hachazos la democracia brasileña es generar externalidad, es cortar costos y, por lo tanto, aumentar las ganancias,» retomar el crecimiento «. Como escribió el brasileño Ladislau Dowbor, sobre un libro reciente de Wolfgang Streeck, lo que vemos, actualmente, es el divorcio definitivo entre democracia y capitalismo. O, como dirían otros analistas que ya arrojaron la toalla hace varias décadas, fue sólo una máscara que cayó. Como diría un grupo brasileño de rap, «nada personal, el asunto es financiero».

 

De Simeão a Marielle

A execução da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em pleno centro da cidade do Rio de Janeiro, no último dia 14, tornou-se um marco da nova fase do período de crise política que o Brasil vive, de forma mais aguda, desde 2016.

Quando iniciamos a coluna em Desinformémonos, em outubro de 2015, já vivíamos a iminência de um golpe suave no país, e o primeiro texto, “Tempo de autonomias no Brasil”, dissertava sobre a gravidade do momento. Falava, na época, sobre uma ameaça para muitos ainda distante, mas que, agora, com essa morte simbólica, se vê plenamente instalada aos olhos de milhões de pessoas no país.

Sem garantias democráticas mínimas, os direitos individuais e coletivos mais básicos estão ameaçados. Não mais os direitos de “minorias”. A hashtag #SomostodosMarielle ganha sentido absolutamente literal: quando uma vereadora da segunda maior cidade do país não está a salvo, o que nos resta do desgastado verniz dessa falsificação grosseira que já foi chamada, anos atrás de “uma das maiores democracias do mundo”.

Na época, o mote para o artigo era o assassinato de Simeão Vilhalva, indígena kaiowa morto durante a retomada na área de Nhanderu Marangatu, na região do extremo oeste do Brasil, fronteira com o Paraguai. Uma área distante, pouco povoada, pouco conhecida da grande maioria dos brasileiros. Agora, com o avançar da deterioração do pouco de democracia que tínhamos, a morte se dá de forma descarada, em pleno centro da cidade brasileira mais conhecida em todo o mundo.

Se antes era um guarani-kaiowa – representante do segundo maior povo indígena do país, mas cujas mazelas eram pouquíssimo conhecidas pela maior parte dos brasileiros até há poucos anos –, agora a vítima, morta com quatro tiros na cabeça, vem do segmento da população brasileira que, no patamar mais baixo da pirâmide social brasileira, literalmente sustenta nosso país, as mulheres negras.

Foi também em 2015, é bom lembrar que as empregadas domésticas – 6,2 milhões de pessoas, sendo 5,7 milhões de mulheres, das quais 3,7 milhões são negras ou pardas – finalmente conquistaram igualdade nas condições de trabalho (antes elas só tinham acesso a 9 dos 34 direitos trabalhistas garantidos na Constituição de 1988). A cada quatro mulheres negras no mercado de trabalho, uma é empregada doméstica (entre as não negras a proporção é de 1/7). O Brasil é conhecido como o país com o maior número de empregadas domésticas do mundo.

O dado é emblemático para que se compreenda como a ruptura política de 2016 pode ser pensada como uma insurgência de parte da elite brasileira, num momento em que a democracia no pais avançava a ponto de arrancar algumas conquistas até mesmo para os grupos mais marginalizados ao longo de nossa história. Era comum, em 2014, ouvir falar de economistas e políticos liberais que participavam de encontros com empresários apresentando, sob aplausos, a tese de que, o principal obstáculo para que o país voltasse a crescer, era que os custos com os salários dos trabalhadores estavam altos demais.

Não é por acaso que já há analistas traçando paralelos entre 1968 e 2018 – o ano em que o mundo viu revoluções foi, no Brasil, o período em que a ditadura militar se lançou a uma radicalização, por meio do chamado Ato Institucional número 5, abrindo as portas para a tortura e a prisão política de milhares de pessoas.

Derrubar a machadadas a democracia brasileira é gerar externalidade, é cortar custos – e, portanto, aumentar os lucros, “retomar o crescimento”. Como escreveu o brasileiro Ladislau Dowbor, sobre livro recente de Wolfgang Streeck, o que vemos, atualmente, é o divórcio definitivo entre democracia e capitalismo. Ou, como diriam outros analistas que já jogaram a toalha há várias décadas – foi somente uma máscara que caiu. Como diria um grupo brasileiro de rap, “nada pessoal, o assunto é financeiro”.