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“Não fui aceita na UNAM”: Krizna, trabalhadora sexual

Krizna/ Taller de periodismo comunitario “Aquiles Baeza” Tradução Rosario Aparicio

Sou Kriza e tenho 41 anos. Ontem fiquei sabendo pela internet do resultado do vestibular para ingressar na Faculdade de Direito da Universidade Nacional Autônoma de México (UNAM). Acho que precisamos de mais faculdades para continuar estudando. Soube que não passei.

Acho que o governo deveria garantir o acesso de todos às universidades e ao ensino médio. Somos dezenas de milhares os que nos encontramos na mesma situação. As autoridades da UNAM não deveriam condicionar o ingresso nessa instituição de ensino. Para todos aqueles que desejassem continuar estudando, deveria bastar ter o diploma escolar para passar à seguinte etapa de ensino. Foi frustrante não ter conseguido uma vaga, no entanto, em maio vou prestar novamente. Tomara que eu passe.

Acho uma desculpa absurda as autoridades universitárias afirmarem que as vagas disponíveis são apenas para aqueles que obtêm maior pontuação. Eles não admitem que, no México, nem eles nem o governo podem garantir o direito à educação, imagino que seja para evitar que as pessoas sejam mais informadas e defendam seus direitos, que tenham outra forma de vida, mais esclarecida.

Agora eu entendo melhor aqueles estudantes que protestam por não terem acesso à faculdade que escolheram. Mas sinto que muitos deles se cansam de tentar e acabam acreditando que não são bons para o estudo, perdem a esperança e desistem. Da minha parte, vou tentar novamente, seja na UNAM, na UAM (Universidade Autônoma do México) ou na UACM (Universidade Autônoma da Cidade do México)

Fiquei um pouco envergonhada quando entrei na fila para me inscrever para o vestibular e vi tantos jovens, por um momento me perguntei: “O que estou fazendo aqui? Eu, um gay de 40 anos, com peitos, depois de ter abandonado os estudos há mais de 20 anos”. Mas lembrei da minha necessidade de estudar e do porque eu estava fazendo aquilo.

Entrar na universidade é aquilo que em algum momento da minha vida sonhei e não consegui realizar. Agora sei que o estudo mudou em mim a forma de ver a vida, ver seus contrastes, as injustiças e a indiferença diante da dor e das necessidades da maioria das pessoas. Quero continuar “me re-evolucionando”, ou sendo “uma travesti”, o que não faz de mim menos do que ninguém. Quero resgatar e encontrar mais coisas valiosas dentro de mim, ou saber daquilo que eu posso, ou daquilo que eu já consegui no passado e que reforça o que eu quero hoje.

Quero estudar Direito porque já faz tempo que eu vejo as injustiças que existem no país; com os camponeses, os indígenas, os vendedores de rua, as mulheres, os gays e, claro, os pobres. Somos humilhados, a muitos lhes tiram suas terras, suas fontes de trabalho, fabricam delitos para muitos de nós e nos criminalizam só pelo fato de defendermos o que é nosso. A exigência das autoridades governamentais de que se tenha um diploma para se exercer a advocacia nos limita para seguir nos defendendo e defendendo às minhas companheiras de trabalho, porque muitos não podemos pagar por um advogado.

A impotência de assistir uma mulher indígena sendo detida apenas por estar vendendo na rua, de ver colegas ativistas reprimidos, encarcerados, feridos e inclusive mortos pelo Estado sem que haja justiça, de ver as leis serem feitas em favor dos mais ricos, tudo isso me indigna e ao mesmo tempo me motiva a estudar Direito.

Definitivamente não deveriam existir milhares de pessoas sem um lugar para estudar.

Sou Krizna, trabalhador sexual transgênero, trabalho na rua e quero seguir me superando. Sempre quis uma mudança neste mundo, agora eu compreendo que devo começar por mim.

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